Pesquisadores da Unifesp apontam caminho promissor para eliminação do vírus causador da AIDS
Após participar de um tratamento desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo – Unifesp, um paciente não identificado que conviveu com o HIV por pelo menos sete anos, está há 17 meses sem sinais do vírus causador da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). Há um ano e meio, ele parou de tomar os medicamentos contra a doença e, desde então, segue sem o microrganismo no corpo, relata reportagem exclusiva da CNN Brasil.
O paciente participou de um estudo liderado pelo infectologista Ricardo Sobhie Diaz e mostra que os cientistas brasileiros estão no caminho certo da cura para a síndrome. Segundo o médico, o vírus não foi detectado no corpo do paciente nem mesmo após passar por exames de alta precisão de diagnóstico. O número de anticorpos que combatem o HIV, que são usados como parâmetro para descobrir se uma pessoa contraiu o vírus ou não, também tem caído progressivamente, “o que é uma evidência de que o vírus pode não estar mais ali”, disse Diaz, em entrevista à emissora.
Ainda assim, o infectologista alerta que é cedo falar em cura e que há a possibilidade o vírus voltar a se manifestar, portanto, o paciente segue em acompanhamento.
Pesquisas anteriores
Os estudos coordenados por Diaz trabalham em duas frentes para combater o vírus HIV: a primeira utiliza medicamentos que eliminam o microrganismo durante sua replicação e células infectadas (mesmo que o vírus esteja adormecido nelas); e a segunda visa o desenvolvimento de uma vacina que leve o sistema imunológico a reagir contra as células doentes que os fármacos não conseguiram eliminar.
O paciente noticiado foi um dos 30 voluntários com carga viral indetectável e sob tratamento padrão que participaram de um dos testes do estudo, cujos primeiros resultados foram anunciados em 2018. Na época, os voluntários foram divididos em seis grupos e receberam diferentes combinações de remédios que eliminam o vírus, além do coquetel de antirretrovirais usado no tratamento padrão.
O subgrupo que apresentou os melhores resultados à época foi o de pacientes que receberam dolutegravir e maraviroc, aliados à nicotinamida (uma forma de vitamina B3 que impediu que o HIV se escondesse nas células) e à auranofina (que revelou potencial para encontrar células infectadas e matá-las).
Além disso, para fortalecer a imunidade dos voluntários, os pesquisadores também criaram uma vacina personalizada de células dendríticas (um tipo de glóbulo branco que nos protege de antígenos), baseada em monócitos (células de defesa) e peptídeos do vírus do próprio paciente. Assim, o próprio organismo pode aprender a detectar e destruir células infectadas, ajudando a eliminar o HIV.
Em 2018, Diaz havia explicado em nota, quais seriam os próximos passos do estudo. “Somente após as análises de sangue e das biópsias do intestino reto desses pacientes vacinados é que partiremos para o desafio final: suspender todos os medicamentos de um deles e acompanhar como seu organismo irá reagir ao longo dos meses ou, até mesmo, dos anos”, disse. “Caso o tempo nos mostre que o vírus não voltou, aí sim, poderemos falar em cura.” finalizou o pesquisador.
Revista Galileu